Série The Deuce retrata origem da indústria pornô em Nova York com olhar documental

Entretenimento

The Deuce, produção original da HBO exibida entre 2017 e 2019, reconstrói o surgimento da indústria pornográfica norte-americana na região da Times Square durante as décadas de 1970 e 1980. Criada por David Simon e George Pelecanos, a série acompanha cafetões, prostitutas, empresários de bares e realizadores de cinema adulto que transformaram um subúrbio marginalizado no coração turístico que se conhece hoje.

Reconstrução histórica fiel ao período

Ambientada inicialmente em 1971, The Deuce utiliza pesquisa de época, figurinos detalhados e cenografia minuciosa para reproduzir calçadas lotadas de cinemas de fachada duvidosa, casas de massagem e bares frequentados por trabalhadores noturnos. Segundo a produção, a consultoria incluiu relatos de policiais, ex-trabalhadoras do sexo e comerciantes que atuaram no entorno da 42ª Rua.

O enredo apresenta Vincent e Frankie Martino, gêmeos interpretados por James Franco, que administram bares na região e negociam com mafiosos locais. Em paralelo, Eileen “Candy” Merrell, vivida por Maggie Gyllenhaal, conquista independência financeira ao optar por trabalhar sem proteção de cafetões e migra das ruas para filmagens de conteúdo adulto.

Relatórios indicam que, no período retratado, as receitas do mercado pornográfico ultrapassaram US$ 1 bilhão anuais nos Estados Unidos. A série ilustra de que forma esse movimento econômico impulsionou a modernização imobiliária que posteriormente expulsou vendedores ambulantes, sex shops e pequenos hotéis da área.

Evolução temática ao longo das três temporadas

A primeira temporada concentra-se no dia a dia de prostitutas e clientes, evidenciando violência de gênero, exploração financeira e a transição do sexo de rua para os primeiros estúdios de filmagem. Coordenadores de intimidade foram contratados para preparar o elenco em cenas que mostram a relação sexual como trabalho comercial, não como ato romântico.

O segundo ano avança para 1977-1978. Nesse período, Frankie amplia negócios com máquinas de vídeo, enquanto Candy passa da atuação para a direção de filmes e contrata atores de teatro, enfrentando barreiras inesperadas quando artistas se intimidam durante gravações explícitas. A temporada destaca a ascensão de câmeras portáteis, que reduziram custos de produção e democratizaram o acesso ao conteúdo adulto.

Na terceira e última temporada, a narrativa chega a 1985. A crise da AIDS e políticas de revitalização urbana dominam o enredo. Personagens LGBT lidam com diagnósticos que alteram a dinâmica social nos bares e nos sets. Ao mesmo tempo, projetos imobiliários estimulados pela prefeitura iniciam a limpeza da 42ª Rua, substituindo cinemas pornôs por teatros da Broadway e telões publicitários.

Impactos socioculturais e paralelos com a realidade

Especialistas em mídia apontam que a abordagem quase antropológica de David Simon lembra a estrutura de The Wire, série na qual o criador já explorava instituições urbanas e economias informais. Em The Deuce, o foco recai sobre mecanismos que normalizaram a pornografia como mercadoria cultural, tema raramente analisado em produções televisivas de grande alcance.

Documentos municipais citados pela série mostram que o aumento do turismo em Manhattan, observado a partir dos anos 1990, está diretamente ligado ao processo de retirada de atividades consideradas “indesejáveis”. Ao dramatizar esse momento, a produção expõe tensões entre moralidade pública, liberdade de expressão e interesses imobiliários.

Série The Deuce retrata origem da indústria pornô em Nova York com olhar documental - Imagem do artigo original

Imagem: Internet

Para o espectador contemporâneo, a trajetória de Candy ilustra debates atuais sobre autonomia feminina no audiovisual e a presença de coordenadores de intimidade em sets modernos. A figura, hoje comum em grandes estúdios, começou a ganhar espaço justamente para atender a preocupações éticas semelhantes às retratadas na trama.

Relevância para o público brasileiro

Ao analisar os bastidores de uma indústria bilionária, The Deuce oferece referências úteis para discussões no Brasil sobre regulação de conteúdo adulto, condições de trabalho de profissionais do sexo e gentrificação de centros urbanos. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro vivenciam transformações parecidas, em que iniciativas de requalificação convivem com críticas de expulsão de populações vulneráveis.

No mercado de streaming, a série também demonstra estratégia de conteúdo premium que contribui para diferenciação de catálogo. Plataformas que buscam expandir base de assinantes podem adotar produções históricas semelhantes para fidelizar públicos interessados em narrativas complexas, o que desperta oportunidades de coprodução internacional.

Na prática, entender os mecanismos mostrados em The Deuce ajuda o consumidor a decifrar como políticas públicas e forças de mercado influenciam lazer, espaços urbanos e mídia que chegam à tela de casa.

Curiosidade

Um fato pouco divulgado é que parte das fachadas da 42ª Rua exibidas em The Deuce foi construída em blocos modulares que podiam ser desmontados e remontados em poucas horas, permitindo filmagens noturnas sem bloquear o trânsito por longos períodos. A técnica, hoje adotada em séries ambientadas em grandes capitais, reduz custos de locação e minimiza impacto sobre o fluxo de pedestres — solução que reflete a própria capacidade de reinvenção do bairro retratado.

Para continuar acompanhando conteúdos sobre cinema, séries e cultura pop, leia também a cobertura especial em nosso caderno de Entretenimento.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *