Um novo trabalho publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences indica que o “Homem de Dali”, fóssil encontrado na China na década de 1970, pertence ao grupo dos denisovanos. O exemplar, datado do Pleistoceno Médio, era disputado entre as classificações Homo erectus e um possível Homo sapiens arcaico. O estudo empregou dados de regulação genética para comparar traços cranianos e encontrou forte compatibilidade com essa linhagem extinta.
Método baseia-se em assinatura de 32 traços cranianos
Os autores partiram de informações de expressão gênica obtidas a partir do genoma denisovano, extraído inicialmente de um fragmento de falange encontrado na caverna Denisova, na Sibéria, em 2010. Com esses dados, estabeleceram 32 características morfológicas que, em tese, estariam presentes no crânio desse grupo humano. Entre os parâmetros analisados estão altura da testa, largura do crânio, tamanho da órbita mandibular e comprimento do palato.
Para validar a abordagem, a equipe aplicou o mesmo procedimento a genomas de neandertais e chimpanzés. A técnica antecipou mais de 85 % dos traços conhecidos dessas duas espécies, reforçando a confiabilidade do modelo. Em seguida, os pesquisadores compararam fósseis do Pleistoceno Médio, período conhecido pela diversidade de formas humanas e apelidado de “bagunça do meio” por antropólogos, dada a dificuldade de classificação taxonômica.
Compatibilidade em 15 de 18 características no fóssil chinês
O crânio Dali exibiu correspondência a 15 dos 18 traços avaliados, superando o limiar definido pelo grupo para confirmação de afinidade. Resultado semelhante foi observado no crânio apelidado de “Homem-Dragão”, também descoberto na China: 16 de 18 pontos compatíveis com o perfil denisovano. Já o fóssil Broken Hill, achado na Zâmbia em 1921 e tradicionalmente classificado como Homo heidelbergensis, apresentou semelhanças tanto com denisovanos quanto com neandertais. Essa mistura sugere que o espécime africano poderia representar um ancestral comum às duas linhagens.
Segundo os autores, a metodologia oferece uma ferramenta objetiva para revisar fósseis de classificação ambígua. Ao transferir informações genéticas para traços físicos mensuráveis, torna-se possível reconhecer parentesco mesmo quando o DNA não está preservado. A técnica pode, portanto, contribuir para resolver debates taxonômicos e mapear a distribuição geográfica dos denisovanos, cujos vestígios já foram relatados em diversas regiões da Ásia.
Implicações para a evolução humana e novos caminhos de pesquisa
Os denisovanos, hoje conhecidos principalmente por suas contribuições genéticas a populações modernas do Sudeste Asiático e da Oceania, permanecem escassos no registro fóssil. A associação do crânio Dali a esse grupo reforça a hipótese de que ocupavam um território amplo no continente, habitando diferentes ecossistemas durante o Pleistoceno Médio.
Além de ampliar o conjunto de fósseis atribuídos a esses hominíneos, o estudo propõe um protocolo replicável para outras peças arqueológicas. A aplicação em coleções de museus e sítios ainda não revisados pode redesenhar a árvore evolutiva humana, esclarecendo rotas migratórias e possíveis cruzamentos entre espécies.

Imagem: Gary Todd via Flickr Public domain
Para quem acompanha temas de genética e evolução, a investigação também demonstra como técnicas de bioinformática e análise de regulação gênica estão transformando a paleoantropologia. Esse avanço convida a reavaliar espécimes antes considerados “enigmáticos” e a reconsiderar teorias sobre a dispersão de linhagens humanas antigas.
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Em síntese, a reclassificação do crânio Dali como denisovano reforça a presença dessa linhagem na Ásia e ilustra como métodos genômicos podem solucionar controvérsias antigas. A perspectiva é que análises semelhantes revelem novos detalhes sobre a diversidade humana, convidando leitores e especialistas a acompanhar futuros desdobramentos.
Curiosidade
Ainda que haja poucos fósseis, traços genéticos dos denisovanos sobrevivem em milhares de pessoas atuais. Populações de Papua-Nova Guiné, por exemplo, podem ter até 5 % de DNA herdado dessa linhagem. Esse legado inclui adaptações a grandes altitudes, presentes nos tibetanos, e mostra como encontros evolutivos do passado continuam influenciando nossa biologia.
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