Estudo revela diversidade de práticas funerárias dos Neandertais na Península Ibérica

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Arqueólogos identificaram indícios de comportamentos funerários diversos entre populações de Neandertais que viveram na Península Ibérica entre 400 mil e 40 mil anos atrás. A revisão do registro fóssil sugere que esses grupos depositavam seus mortos em pontos específicos de cavernas, abrindo nova perspectiva sobre as formas de lidar com a morte antes do surgimento do Homo sapiens moderno na região.

Corpos intencionalmente acumulados

A equipe liderada pela pesquisadora Nohemi Sala analisou todos os fósseis conhecidos de Neandertais e de seus ancestrais diretos encontrados em Espanha, Portugal, Andorra e Gibraltar. O objetivo foi determinar se a localização dos restos humanos se devia a causas naturais — como ação de carnívoros ou acidentes — ou a práticas intencionais.

Após descartar cenários de transporte de corpos por animais e de acumulação acidental, os cientistas concluíram que houve deposição deliberada de indivíduos em determinadas áreas das cavernas. Esses depósitos se repetem ao longo de milhares de anos, apontando para uma conduta socialmente partilhada, ainda que diferente do sepultamento formal já descrito em outros locais da Europa e da Ásia.

Ausência de túmulos não significa ausência de rituais

Na Península Ibérica, não há evidências de covas escavadas ou de artefatos enterrados junto aos corpos, práticas tradicionalmente associadas a rituais funerários. Mesmo assim, a frequência e a localização dos achados indicam intenção. Segundo Sala, o conceito de “enterramento” precisa ser ampliado para abarcar essas manifestações, que também refletem uma percepção simbólica da morte.

Os resultados mostram que a ausência de túmulos formais não implica falta de cuidado com os mortos. Pelo contrário, o padrão verificado revela um comportamento complexo, possivelmente ligado a crenças ou regras sociais específicas, agora reconhecidas como parte da diversidade cultural dos Neandertais.

Clima e ambiente não influenciaram os rituais

Os pesquisadores investigaram se oscilações climáticas do Pleistoceno — período marcado por ciclos de glaciação — impactaram as formas de tratamento dos cadáveres. A análise não encontrou correlação direta entre mudanças ambientais e a adoção de práticas funerárias. Isso sugere que a decisão de depositar corpos em locais selecionados derivou de fatores culturais, e não apenas de pressões ecológicas.

Relevância para a compreensão da espécie

A Península Ibérica é considerada estratégica na história evolutiva europeia: serviu de refúgio para diferentes linhagens de Neandertais e, posteriormente, para os primeiros humanos modernos. Comprovar que essas populações desenvolveram tradições próprias ligadas à morte fortalece a hipótese de que possuíam estruturas sociais e cognitivas mais complexas do que se supunha.

Além disso, o estudo destaca a necessidade de valorizar outros tipos de evidência funerária em sítios arqueológicos. A ênfase exclusiva em enterros formais pode levar à subestimação de práticas igualmente significativas, como o depósito sistemático de corpos sem escavação de covas.

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O levantamento publicado na Journal of Archaeological Science: Reports reforça que os Neandertais da Península Ibérica possuíam rituais variados e intencionais relacionados à morte. A pesquisa amplia o horizonte sobre o comportamento simbólico da espécie e convida a revisitar sítios já escavados com novos métodos e perguntas. Continue acompanhando nossas matérias para receber as próximas revelações sobre a evolução humana.

Curiosidade

Os Neandertais não deixaram apenas ossos: vestígios de pigmentos minerais encontrados em algumas cavernas ibéricas sugerem que eles manipulavam ocre, possivelmente para pintar objetos ou o próprio corpo. Embora ainda não se saiba se esses pigmentos tinham ligação direta com cerimônias fúnebres, o fato amplia o debate sobre a capacidade simbólica desses antigos hominíneos.

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