Em 10 de setembro de 1973, a rotina da missão Skylab 3 foi subitamente interrompida por uma voz feminina que soou no circuito de comunicação da NASA, surpreendendo o Centro de Controle em Houston. A aparente “visitante” afirmava ter levado uma refeição quente aos tripulantes e descrevia detalhes de incêndios florestais na Califórnia vistos do espaço. O episódio, que confundiu engenheiros e diretores por décadas, era na verdade um trote cuidadosamente orquestrado pelo astronauta Owen Garriott, membro da tripulação.
O plano por trás da pegadinha
A missão Skylab 3, segunda a visitar a primeira estação espacial norte-americana, começou em 28 de julho de 1973 com Owen Garriott, Jack Lousma e Alan Bean. Durante os 59 dias previstos em órbita, o trio realizaria experimentos sobre microgravidade, observações solares e estudos médicos. Meses antes do lançamento, Garriott decidiu introduzir um momento de descontração no calendário apertado de atividades científicas.
O astronauta redigiu um roteiro detalhado para a esposa, Helen Garriott, que gravou múltiplas versões das falas. As gravações incluíam menções a eventos visíveis da órbita, como incêndios e furacões, além de pausas calculadas para permitir intervenções do controlador de comunicações (Capcom). Para garantir verossimilhança, Garriott combinou a brincadeira com dois capcoms: Robert Crippen e Karl Henize. Ambos manteriam a encenação, fingindo desconhecer a origem da voz.
A comunicação que confundiu Houston
Quando a estação completou mais uma passagem sobre território norte-americano, a gravação foi transmitida do módulo de comando do Skylab. “Olá, Houston, aqui é a Skylab”, iniciou a voz feminina. Crippen respondeu de forma natural: “Olá, Skylab. Quem está falando?”. A “misteriosa visitante” identificou-se como Helen, explicando que havia “voado” até a estação para preparar uma refeição aos astronautas, que estariam sem comida quente havia dias.
Surpreso, Crippen questionou como ela teria chegado até lá. Helen respondeu, conforme o roteiro, que pilotara uma nave própria e aproveitara para observar os incêndios na Costa Oeste. Após breves saudações, a transmissão foi encerrada, deixando o controle de missão sem explicações plausíveis. Gerentes ligaram imediatamente para verificar a localização real de Helen, que, obviamente, permanecia em solo.
Repercussão e revelação
Durante um quarto de século, o incidente gerou especulações entre ex-funcionários e entusiastas de aviação espacial. A identidade da voz e a logística de uma suposta visita secreta permaneciam um mistério. Somente em 1998, em entrevista ao projeto de História Oral da NASA, Owen Garriott revelou todos os detalhes da produção, incluindo a participação dos capcoms e as fitas pré-gravadas.
Segundo Garriott, o objetivo foi oferecer um momento de leveza à equipe em Terra, que encarava longos turnos e pressão constante. “Eles nunca descobriram”, declarou o astronauta, rindo ao relembrar a confusão instalada no centro de operações.

Imagem: NASA
Legado da Skylab 3
Apesar da pegadinha, a missão foi marcada por contribuições científicas relevantes. Experimentos sobre adaptação fisiológica forneceram dados fundamentais para futuras estadias prolongadas no espaço. A equipe também registrou imagens do Sol e testou métodos de fabricação em microgravidade. O episódio do “trote espacial” entrou para o folclore da agência, ilustrando que, mesmo em ambientes de alta exigência técnica, há espaço para humor.
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O trote arquitetado por Owen Garriott tornou-se referência entre astronautas que, desde então, tentam superar a criatividade do colega. O caso demonstra como planejamento meticuloso e colaboração entre poucos conspiradores foram suficientes para enganar um dos centros de controle mais sofisticados do mundo.
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Curiosidade
A gravação utilizada por Helen Garriott incluía variações de falas para serem acionadas conforme o capcom escalado na hora da comunicação, garantindo que qualquer resposta pareceria espontânea. Crippen e Henize ensaiaram apenas minutos antes da transmissão real, reforçando o elemento surpresa. Ainda hoje, novos astronautas ouvem essa história durante o treinamento na NASA como exemplo de camaradagem e criatividade em ambientes extremos.