O suspense de ficção científica “The Cell”, estrelado por Jennifer Lopez e dirigido por Tarsem Singh, figura entre as produções mais divisivas do início dos anos 2000. Lançado em 2000, o longa recebeu avaliações mistas e enfrentou resistência de parte do público devido às sequências de violência gráfica e à narrativa incomum. Ainda assim, o renomado crítico norte-americano Roger Ebert colocou o título em sexto lugar na sua lista dos dez melhores filmes daquele ano.
Visual arrojado chama a atenção da crítica
Em “The Cell”, Jennifer Lopez interpreta a psicóloga infantil Catherine Deane, recrutada pelo FBI para utilizar uma tecnologia experimental que permite entrar na mente de um serial killer em coma, vivido por Vincent D’Onofrio. O objetivo é localizar a última vítima do assassino antes que um mecanismo automático provoque sua morte por afogamento. Grande parte da ação se passa dentro do universo mental do criminoso, cenário que deu liberdade ao diretor para criar imagens oníricas, repletas de cores saturadas e ambientes surrealistas.
Essas escolhas visuais foram determinantes para Ebert. No texto que justificou a presença de “The Cell” em sua lista anual, o crítico descreveu Tarsem como “virtuoso visual” e elogiou a forma como o cineasta misturou estilos, gêneros e referências artísticas. Ebert concedeu quatro de cinco estrelas ao filme, ressaltando que as sequências de sonho conferem caráter único à produção e a diferenciam de outros thrillers com temática de assassinos em série.
Recepção dividida e desempenho de bilheteria
Apesar do apoio de Ebert, “The Cell” encontrou resistência entre críticos e espectadores. Comentários negativos apontaram roteiro confuso, atuação irregular e violência excessiva. Mesmo assim, o título recuperou seu orçamento modesto, arrecadando cerca de US$ 104 milhões mundialmente. A performance financeira razoável mostrou que o apelo visual e a curiosidade em torno da participação de Jennifer Lopez — então em ascensão no cinema e na música — atraíram público suficiente para evitar o fracasso comercial.
O contraste entre a recepção crítica e o entusiasmo de Ebert evidencia a natureza polarizadora do filme. Para alguns analistas, o espetáculo imagético se sobrepôs ao desenvolvimento de personagens e à coerência narrativa. Para outros, justamente a ousadia estética justificou sua existência, transformando-o em obra de culto ao longo dos anos.
Colaboração com a premiada designer Eiko Ishioka
Grande parte da assinatura visual de “The Cell” advém do trabalho da figurinista japonesa Eiko Ishioka. Conhecida pelo Oscar conquistado por “Drácula de Bram Stoker” (1992), Ishioka criou trajes elaborados que reforçam a atmosfera perturbadora do subconsciente retratado no filme. Entre eles, destacam-se a armadura muscular usada pelos personagens durante a transferência mental e os trajes cerimoniais do alter ego monstruoso do assassino. As peças conferem identidade imediata às cenas, contribuindo para a sensação de estar em um universo paralelo.
A parceria entre Tarsem e Ishioka prosseguiu em produções posteriores, como “Imortais” (2011) e “Espelho, Espelho Meu” (2012). Nenhum desses trabalhos, no entanto, alcançou o mesmo impacto visual percebido por Ebert em “The Cell”.

Imagem: Internet
Legado e possíveis reavaliações
Passadas mais de duas décadas, “The Cell” continua a provocar debates sobre forma e conteúdo. Enquanto parte do público rejeita o ritmo contemplativo e as imagens perturbadoras, estudiosos de cinema apontam a obra como exemplo de estética avant-garde aplicada ao gênero de terror mainstream. O reconhecimento de Ebert, um dos críticos mais influentes dos Estados Unidos, serve de argumento para revisitas frequentes ao longa em festivais e mostras dedicadas a títulos subestimados.
Para leitores interessados em outras produções que desafiaram expectativas e dividiram opiniões, a seção de Entretenimento do Remanso Notícias reúne análises sobre lançamentos e clássicos reavaliados.
Em síntese, “The Cell” permanece como experiência cinematográfica que prioriza impacto visual e atmosfera onírica em detrimento de convenções narrativas. A defesa de Roger Ebert reforça o valor artístico do filme, incentivando novas gerações a explorarem obras que, à primeira vista, não conquistam consenso crítico. Se o espectador busca algo além do convencional nos thrillers psicológicos, a viagem pela mente construída por Tarsem Singh continua válida.
Chamada para ação: Assista ao longa e compartilhe sua impressão — a estética singular de “The Cell” ainda provoca discussões sobre a fronteira entre arte visual e entretenimento de massa.
Curiosidade
As filmagens de “The Cell” ocorreram em locações reais e em estúdio, mas grande parte dos cenários foi criada com efeitos práticos, reduzindo o uso de computação gráfica. Essa abordagem garantiu textura física aos ambientes, fato que, segundo Ebert, aumenta a sensação de imersão no subconsciente do assassino. O traje de câmara de flutuação usado por Jennifer Lopez pesava mais de 15 quilos, demandando preparação física da atriz para suportar longas horas de gravação.